sábado, 30 de outubro de 2010

em ala riba estou sentado falando “ uâ lhengua” distante. é esta língua vaga e distante que se ouve numa voz franzina e escuta, como só ela sabe fazer, o apelo da terra. a mim resta-me ouvi-la numa procura incessante de semelhança, apelar ao mimetismo, a essa aptidão para captar a linguagem das coisas e dos seres. mas até eu já esqueci o que é agarrar um punhado de terra, caminhar entre silvedos e beber, com o joelho ileso no chão, um dedal de água que por ali passava. e por mais que coleccionasse cada momento o seu sentido excedia-me, porque a semelhança mata, aniquila e não nos revela o autêntico. é como a tragédia nos dita, um Édipo a desvendar o enigma da esfinge e o coro final a esmiuçar a treva do seu rosto e a cegueira que a verdade lhe esconjura. para o que não ama, o amor é uma língua bárbara, os sentidos vigiam inexpressivos na escuridão mais densa. por isso a palavra é pequena demais, mero reflexo metamorfoseado da verdade, mas esta língua está tão próxima do centro, que vê como o olho de lince, a semente e o fruto.

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